terça-feira, 19 de junho de 2012

POEMAS DE LEMINSKI

OLINDA WISCHRAL

pessoas deviam poder evaporar
quando quisessem
não deixar por aí
lembranças pedaços carcaças
gotas de sangue caveiras esqueletos
e esses apertos no coração
que não me deixam dormir

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nunca sei ao certo
se sou um menino de dúvidas
ou um homem de fé

certezas o vento leva
só dúvidas continuam de pé

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S.O.S.

não houve sim que eu dissesse
que não fosse o começo
de um esse o esse

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viver é super-difícil
o mais fundo
está sempre na superfície

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depois de muito meditar
resolvi editar
tudo que o coração
me ditar

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ah se pelo menos
eu te amasse menos
tudo era mais fácil
os dias mais amenos
folhas de dentro da alface

mas não
tinha que ser entre nós
esse fogo
esse ferro
essa pedreira
extremos
chamando extremos na distância

segunda-feira, 4 de junho de 2012

ESTOU VIVO E ESCREVO SOL, poema de Herberto Helder

ESTOU VIVO E ESCREVO SOL

Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em frios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol

Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever e sol

A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram suas faces
e na minha língua o sol trepida

Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde

ORFEU, poema de Antonio Ramos Rosa

ORFEU

Não é bastante
que eu reconheça a minha solidão
e a preze como o início dum caminho.
Não é bastante
ser livremente tudo quanto sei
e estar aberto a tudo o que serei.
Tudo o que fui e o que sou e o que serei
já são iguais
no tempo do meu todo ignorado.
Quero abrir o que as palavras não descrevem
por já não responder ao sim e ao não
do meu espelho conhecível.
Já não me basta apenas dar um nome
à morte que me cabe enquanto vivo
porque morrer é ter perdido a morte
para sempre
tornando sem sentido o sim e o não
com que me circundei e defini-me.
Conheço-me as fronteiras.
Quero o resto.

domingo, 3 de junho de 2012

Tarde oculta no tempo, poema de Jorde de Lima

TARDE OCULTA NO TEMPO

O andarilho sem destino reparou então
que seus sapatos tinham a poeira indiferente
de todas as pátrias pitorescas;
e que seus olhos conservavam as noites e os dias
dos climas mais vários do universo:
e que suas mãos se agitaram em adeuses
a milhares de cais sem saudades e amigos;
e que todo o seu corpo tinha conhecido
as mil mulheres que Salomão deixou.
E o andarinho sem destino viu
que não conhecia a Tarde que está oculta no tempo
sem paisagens terrenas, sem turismos, sem povos,
mas com a vastidão infinita onde os horizontes
são as nuvens que fogem.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Amigos, por Oscar Wilde

Amigos

Oscar Wilde

"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade s ua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que...normalidade é uma ilusão imbecil e estéril."

Propostas de trabalho


Abordagem PSICOSSOMÁTICA e JUNGUIANA

O interessante da abordagem psicossomática é sua busca de uma compreensão biológica, psicológica e social do fenômeno da doença ou de qualquer comportamento.
Assim, o ser humano tem uma visão mais integral do seu processo e dá para afirmar que 100% de chance de cura ou de possibilidade de autoconhecimento dentro do que for seu potencial pessoal e o fio de sua existência possibilitar.
O processo terapêutico é geralmente realizado em sessões de uma hora, uma vez por semana. O atendimento é personalizado e o tempo da sessão e a freqüência podem ser manejados para o melhor atendimento do paciente. É a subjetividade do paciente e seu desenvolvimento pessoal que vão orientar o meu trabalho enquanto terapeuta.

Orientação Profissional

O processo de orientação profissional que proponho consta de 4 a 5 sessões realizadas dentro do consultório e algumas vezes um ou dois encontros realizados fora da situação de consultório.
A proposta é num primeiro momento busco junto ao cliente levantar seu histórico pessoal e características pessoais. Se o cliente se interessar calculo seu mapa astral e investigamos as indicações astrológicas existentes para a vida profissional do cliente. Depois, fazemos um "tour" pelas profissões existentes no mundo. Num terceiro momento pensamos no que pode ser sua vocação profissional e levantamos juntos algumas opções para investigação.
O quarto passo do processo é entrevistar profissionais das áreas selecionadas, algumas vezes visitar locais de trabalho almejados, e investigar as faculdades existentes de forma real e objetiva, algumas vezes fazendo também visitas aos locais das faculdades.
O último momento é uma análise da situação e do processo, feita tanto com o cliente como com sua família.

Terapia Breve

A terapia breve é focal. Trabalhando com um objetivo determinado, ela visa obter resultados para o paciente.
Minha experiência pessoal é que funciona e terapeuta e paciente trabalhando juntos numa determinada direção acabam obtendo resultados positivos.

Sandplay

O sandplay é uma técnica expressiva e bastante lúdica.
Ele é constituído por uma caixa de areia retirada da praia , higienizada , peneirada. Essa areia pode ser usada para o paciente desenhar e também para alojar as miniaturas dispostas na estante. Com esse conjunto, o paciente pode expressar através de uma linguagem plástica e de certa forma lúdica uma questão que está sendo trabalhada na terapia.
A técnica possibilita insights e parece ser muito relaxante para o paciente.

Curriculo

CURRÍCULO - DENISE FERNANDES SILVA


FORMAÇÃO ACADÊMICA:

Psicóloga formada pela USP (2000).
Especialização em psicossomática pela Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo (2002).
Fiz cursos nas áreas de mitologia, técnicas expressivas, abordagem corporal junguiana, sexualidade, adolescência e cultura brasileira.

EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL:

Tenho atuado no consultório como terapeuta clínica desde a minha formação em 2000.
Realizo trabalhos de orientação profissional e coaching em meu consultório, além do trabalho em terapia.
Trabalhei como assessora em empresas de engenharia, vídeo e da área de confecções, melhorando relacionamentos e aumentando a produtividade e satisfação no trabalho. (Empresas: SBN Engenharia, DA HUI e WG Confecções, Franmi Produções em Video, Surf-X-Press).
Fui professora de Psicologia para o curso de Administração da Escola Superior de Administração e Gestão de Santo André (2006) e para a FISP (Faculdades Integradas de São Paulo) lecionei também a disciplina de Psicologia para os cursos de Comunicação Social, Nutrição, Administração e Turismo no ano de 2002.

Além disso, ofereci treinamentos para formação de profissionais de atendimento ao cliente, workshop de relaxamento na Empresa Melhoramentos (2002), workshop de Motivação para o trabalho na CETESB- São Caetano (2001) e de mitologia no SESC Pinheiros e São Caetano (1995 a 1998).

Ser terapeuta

Ser Terapeuta
Ser terapeuta não foi algo que resolvi sozinha. Havia feito anos de análise pessoal e freqüentado diversos tipos de terapia. Havia terminado o curso de Psicologia. Me tornara pronta para ser uma terapeuta, mas havia uma impossibilidade em mim. Não tinha coragem de alugar uma sala, dizer “sou terapeuta”, minha insegurança me impedia. Mas, fui salva por uma paciente que me ligou e perguntou se eu havia me formado e podia atendê-la. A partir da confiança dela em mim, do desejo dela de fazer terapia comigo, de todos os ecos que essa confiança e desejo causaram em mim, tornei-me terapeuta de fato, responsável por um consultório. Até hoje, só sinto que sou terapeuta porque meus pacientes aparecem e a dinâmica que existe entre eu e eles me leva a navegar pelas teorias psicológicas em busca de alimento-conhecimento. Ser terapeuta me conduz para todas as alturas do espírito e para todas as doçuras e tormentas da alma. Ser terapeuta me leva ao centro. Perto do amor, perto da dor, num lugar onde o sentimento pode ser elaborado de forma segura, mesmo eu-mesma sendo tão insegura. A segurança vem da própria técnica terapêutica como a entendo: as intenções do terapeuta, a ética, a imensa capacidade que o ser humano tem de reflexão, linguagem, construções afetivas e simbólicas, usando sua imaginação e todo o seu potencial para superar a si mesmo. O processo terapêutico é transformador para mim como terapeuta e para meus pacientes. Ele é um embrião de significados, que vão dando sentidos à pessoa como um todo e à sua história.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

3 fases por Nietzsche

in "O poder do mito", de Joseph Campbell:
" Numa espécie de parábola, Nietzsche descreve o que chama de as três transformações do espírito. A primeira é a do camelo- da infância e da juventude. O camelo se ajoelha e diz: "Ponha uma carga sobre mim." Isso representa o período da obediência, da assimilação das instruções e informações necessárias, segundo a sociedade, para se viver uma vida responsável.
   Mas, quando está bem carregado, o camelo se ergue nas patas e corre para o deserto, onde se transforma num leão; quanto mais pesada a carga, mais forte o leão. Bem, o dever do leão é matar o dragão, e o nome do dragão é "Você fará". Em cada uma das escamas desse animal está impresso um "você fará": alguns, de quatro mil anos; outros, das obrigações do dia. Enquanto o camelo- a criança- tem de se submeter aos muitos "você fará", o leão-o jovem- se dedica a atirá-los fora e chega à sua autodeterminação.
   Assim, quando o dragão está completamente morto, com todos os "você fará" desativados, o leão se transforma numa criança que abandona a sua própria natureza, como uma roda impelida pelo próprio eixo. Não mais regras para obedecer, não mais regras decorrentes das necessidades e deveres históricos da sociedade local, mas o genuíno impulso vital de uma vida em flor."

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Sobre a fotografia, de Jean Baudrillard, in "A Transparência do Mal"

" A fotografia mostra o estado do mundo em nossa ausência. A objetiva explora essa ausência. Até nos rostos ou nos corpos carregados de emoção e de patético, é ainda essa ausência que ela explora. Fotografa-se, pois, o melhor dos seres para os quais não existe o outro ou já não existe (os primitivos, os miseráveis, os objetos). Só o desumano é fotogênico. É a esse preço que funciona uma estupefação recíproca, logo, uma cumplicidade nossa para com o mundo e do mundo para conosco.
  A fotografia é nosso exorcismo. A sociedade primitiva tinha suas máscaras, a sociedade burguesa seus espelhos, nós temos nossas imagens.
  Acreditamos forçar o mundo pela técnica. Mas, pela técnica, é o mundo que se impõe a nós, e o efeito de surpresa devido a essa inversão é considerável.
  Você pensa estar fotografando determinada cena por prazer- de fato é ela que quer ser fotografada, você é mero figurante da encenação. O sujeito é apenas o agente da aparição irônica das coisas. A imagem é, por excelência, o médium dessa publicidade gigantesca que o mundo faz de si, que os objetos fazem de si, forçando nossa imaginação a se diluir, nossas paixões a se extroverterem quebrando o espelho que lhes estendíamos, hipocritamente aliás, para captá-los.
  O milagre hoje é que as aparências, por muito tempo reduzidas a uma servidão voluntária, voltam-se para nós, e contra nós, soberanas, através da técnica da qual nós as havíamos expulsado. Hoje elas vêm de outro lugar, do lugar que lhes é próprio, do âmago de sua objetividade, irrompem de todos os lados, multiplicam-se por si com alegria ( a alegria de fotografar é um júbilo objetivo; quem nunca sentiu esse enlevo objetivo da imagem, de manhã, num deserto, não terá entendido nada da delicadeza patafísicado mundo).
  Se uma coisa quer ser fotografada, é justamente porque não quer entregar seu sentido, porque não quer refletir-se. É porque ela quer ser captada diretamente, violentada ali mesmo, iluminada em cada pormenor, em sua qualidade fractal. Sente-se que uma coisa quer ser fotografada, quer tornar-se imagem, e não é para durar; ao contrário, é para melhor desaparecer. E o sujeito só será um bom médium fotográfico se entrar nesse jogo, se exorcizar seu próprio olhar e seu próprio julgamento estético, se gozar com sua própria ausência.
  É preciso que uma imagem tenha essa qualidade, a de um universo do qual o sujeito se retirou. É a própria trama dos pormenores do objeto, das linhas, da luz, que deve significar essa interrupção do sujeito e, por isso, essa interrupção do mundo também, que dá suspense à foto. Pela imagem, o mundo impõe sua descontinuidade, sua fragmentação, sua ampliação, sua instantaneidade artificial. Nesse sentido, a imagem fotográfica é a mais pura, porque não simula nem o tempo nem o movimento, e se mantém no mais rigoroso irrealismo. Todas as outras formas de imagem (cinema e demais) longe de ser progressos, talvez não sejam senão formas atenuadas dessa ruptura da imagem pura com o real. A intensidade da imagem está na proporção de sua descontinuidade e de sua abstração maximal, isto é, de sua opção de recusa do real. Criar uma imagem consiste em retirar ao objeto todas as suas dimensões uma por uma: peso, relevo, perfume, profundidade, tempo, continuidade e, é claro, significado. É à custa dessa desencarnação, desse exorcismo, que a imagem ganha um acrésimo de fascínio, de intensidade, que ela se torna o médium da objetividade pura, que ela se torna transparente a uma forma de sedução mais sutil. Juntar todas essas dimensões uma por uma, o relevo, o movimento, a emoção, a idéia, o patético, o significado, o desejo, para fazer o melhor, para tornar mais real, isto é, mais bem simulado, é um contra-senso total em temros de imagem. E até a técnica aí fica presa em sua própria armadilha.
  Na fotografia as coisas articulam-se por uma operação técnica que corresponde à articulação de sua banalidade. Vertigem do pormenor perétuo do objeto. Excentricidade mágica do pormenor. O que é uma imagem para outra imagem, uma foto para outra foto: contguidade fractal, nenhuma relação dialética. Nenhuma "visão do mundo", nenhum olhar- a refração do mundo, em seu pormenor, com armas iguais.
  A imagem fotográfica é dramática. Por seu silêncio, por sua imobilidade. Aquilo com que as coisas sonham, aquilo com que sonhamos, não é com o movimento, é com essa imobilidade mais intensa. Força da imagem imóvel, força da ópera mítica. O próprio cinema cultiva o mito da marcha lenta e da imagem parada como o ponto mais alto da dramaticidade. E o paradoxo da televisão terá sido sem dúvida o de desenvolver todo o charme ao silêncio da imagem.
  A imagem fotográfica é dramática também pela luta entre uma vontade do sujeito de impor uma ordem, uma visão, e a vontade do objeto de impor-se em sua descontinuidade e em sua imediatidade. na melhor hipótese, é o objeto que vence, porque a imagem-foto é a de um mundo fractal, do qual não há equação nem intimação me lugar nenhum. Diferente da arte, da pintura, do próprio cinema que, pela idéia, pela visão ou pelo movimento, sempre esboçam a figura de uma totalidade.
  Não o desapego do sujeito em relação ao mundo, mas a desconexão dos objetos entre eles, a sucessão aleatória dos objetos parciais e dos pormenores. da síncope musical como do movimento das partículas. A foto é o que nos aproxima mais da mosca, de seu olho facetado e de seu vôo em linha quebrada.
  O desejo de fotografar talvez venha desta constatação; visto na perspectiva de conjunto, do lado do sentido, o mundo decepciona bastante. Visto, em pormenor, de surpresa, é sempre de uma evidência perfeita."

sábado, 24 de março de 2012

"A donzela que era mais sábia que o czar"

"Era uma vez um homem pobre que tinha uma única filha.
Essa jovem era surpreendentemente sábia; parecia possuir uma compreensão muito acima do que seria de se esperar na sua idade e freqüentemente dizia coisas que espantavam a seu próprio pai.
Um dia, quando estava sem um centavo, esse homem foi visitar o czar, para pedir ajuda.
O czar ficou atônito ao ver a forma refinada com que o homem falava, e perguntou-lhe onde havia aprendido aquelas frases.
- Com minha filha- respondeu o homem.
- Sim, mas onde a sua filha aprendeu?- perguntou o czar.
- Deus e nossa pobreza a tornaram sábia- foi a resposta.
- Aqui está algum dinheiro para suas necessidades imediatas- disse o czar,- e trinta ovos, para que você peça à sua filha, em meu nome, para que os ponha a chocar para mim. Se ela o fizer com êxito darei a você ricos presentes. Caso ela não o consiga, você será torturado.
O homem voltou para casa e deu os ovos para sua filha, que os examinou, pesando um ou dois em suas mãos, e assim ela se deu conta de que eram ovos cozidos. Disse ao seu pai:
- Pai, espere até amanhã. Talvez eu descubra o que se pode fazer.
No dia seguinte ela acordou bem cedo e, tendo pensado uma solução, ferveu algumas sementes. Colocou-as dentro de uma pequena bolsa e deu-a a seu pai, dizendo:
- Vá com o arado e os bois, pai, e comece a arar ao lado do caminho por onde o czar passa quando está indo à igreja. No momento em que o czar puser sua cabeça para fora da carruagem você deve gritar: 'Vamos, bravos bois, arem a terra para que estas sementes cozidas cresçam bastante!'
O pai fez o que a sua filha havia dito,e, conforme a previsão dela, o czar olhou o homem trabalhando pela janela da carruagem. Quando escutou o que ele gritava, disse:
- Homem estúpido, como você pode esperar que sementes cozidas produzam algo?
O homem, prevenido pela sua filha, gritou:
- Da mesma forma como ovos cozidos produzem pintos!
O czar então seguiu o seu caminho, sabendo que a jovem havia sido mais esperta do que ele.
Porém as coisas não terminariam assim...
No dia seguinte o czar enviou fio de linho enrolado e embaraçado à casa do homem. O mensageiro disse:
-Este linho deve ser usado para fazer velas para o barco do meu senhor, e isso deve ser feito até amanhã. Caso contrário você será executado.
Chorando, o homem entrou em casa , mas sua filha lhe disse:
-Não tenha medo, pensarei em uma solução.
Na manhã seguinte, ela se dirigiu a seu pai e entregou-lhe um pedaço de madeira, dizendo:
- Diga ao czar que se ele puder fazer todos os instrumentos necessários para fiar e tecer deste pedaço de madeira, eu farei o tecido para as velas com este linho.
O homem fez conforme a sua filha havia indicado, e o czar ficou ainda mais impressionado com a resposta da jovem. No entanto ele pôs uma pequena taça na mão do homem e disse:
- Vá, leve esta taça para sua filha e peça-lhe para esvaziar o mar com ela, porque assim poderei aumentar meus domínios com novas pastagens.
O home voltou à sua casa e deu a taça à filha, dizendo-lhe que o governante havia pedido novamente algo impossível de ser feito.
-Vá se deitar- disse ela. - Pensarei em algo , concentrando minha mente nisto toda a noite.
Ao amanhecer chamou o pai e disse:
- Diga ao czar que se ele puder represar todos os rios do mundo com este pedaço de estopa, então esvaziarei o mar para ele.
O pai voltou ao palácio e contou ao czar o que a sua filha dissera. O czar reconhecendo que ela era mais sábia do que ele, pediu que ela fosse enviada à corte imediatamente. Quando ela se apresentou, ele lhe perguntou:
- O que é que pode ser ouvido a uma grande distância?
Sem vacilar, ela respondeu imediatamente:
- Somente o trovão e a mentira podem ser ouvidos desde os pontos mais distantes, ó czar.
Atônito, o czar segurou sua própria barba, e virando-se para os cortesãos lhes perguntou:
- Quanto acham que vale a minha barba?
Todos começaram a calcular o que pensavam que a barba valia, dando-lhe preços cada vez mais altos para adular Sua Majestade. Então o czar perguntou à donzela:
- E você, minha criança, quanto você acha que vale a minha barba?
Os cortesãos aguardavam atentos a resposta:
- A barba de Vossa Majestade vale três chuvas de verão.
O czar, muito surpreendido, disse:
- Você respondeu corretamente. Eu me casarei com você e farei de você minha esposa hoje mesmo.
E assim a jovem se tornou a czarina. Mas assim que as bodas terminaram ela disse ao czar:
- Tenho um pedido para fazer. Conceda-me a graça, escrita com letra de sua própria mão, de que se você ou alguém de sua corte desgostar-se comigo, e eu tiver que partir, me será permitido levar comigo aquilo de que eu mais gostar.
Encantado com bela donzela, oczar pediu uma pena e um pergaminho e imediatmanete escreveu, selando o documento com seu anel de rubi, tal como ela havia solicitado.
Os anos se passaram com muita felicidade para ambos. Um dia porém o czar teve uma acalorada discussão com czarina e, irritado, ordenou:
- Vá embora! Desejo que deixe esse palácio para nunca mais voltar.
Então irei embora amanhã- disse a jovem czarina, obedientemente. - Permita-me somente passar a noite aqui para preparar meu regresso a casa.
O czar concordou e, antes de deitar-se, tomou a bebida de ervas que ela sempre preparava para ele. Assim que a bebeu o czar caiu adormecido. A czarina levou-o para a carruagem real, e partiram para a cabana do seu pai.
Quando amanheceu o czar, que havia dormido tranquilamente a noite inteira, despertou, olhando desconcertado ao seu redor.
- Traição!- gritou. - Onde estou e de quem sou prisioneiro?
-Meu, Vossa Majestade- respondeu a czarina docemente. -O documento escrito por sua própria mão está aqui.
E lhe mostrou o pergaminho onde ele havia escrito que se ela tivesse que sair do palácio poderia levar aquilo de que mais gostasse.
Quando o leu, o czar riu de coração, e declarou que seu afeto por ela ainda era o mesmo.
A que ela respondeu:
- Meu grande amor por você, ó czar, me fez assim tão adudaciosa. Mas, se arrisquei minha vida, isso demonstra o quanto amo você.
E foi assim como eles se uniram novamente e viveram felizes para o resto de suas vidas."